quinta-feira, 23 de abril de 2009

IN MEMORIAM


Crônica redigida em homenagem ao Professor e Juiz Renato Pacheco quando da notícia do seu falecimento e após nosso último encontro, publicada inicialmente no Jornal “A Tribuna” do ES.


Por décadas seu nome esteve associado a cultura capixaba. Vulto maior e performático, Renato José Costa Pacheco – (1928-2004) – deixou-nos fisicamente, de súbito. Sua obra, vasta, permanecerá.
Juiz e professor universitário, presidente de honra do IHGES, membro da Comissão de folclore do ES... Renato foi em vida aquilo que sociologicamente chamamos de “aristocrata do trabalho”.
Sua produção intelectual abrange meio século, ramificando-se pela história, jurisprudência, sociologia, antropologia, folclore, romance, poesia, conto, ensaio, crítica literária, crônica, jornalismo, etc.
De carreira meteórica e vitoriosa como magistrado e educador, a imagem de amigo da juventude lhe é indissociável. Em graduação, pós ou em cursos avulsos fui seu aluno. Devo-lhe o aprendizado na tolerância, a pesquisa remunerada para duas obras suas, o convite (adiado por mim três vezes) para integrar o Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo (IHGES), a paciência e erudição no julgamento de teses pessoais, o incentivo para me aprofundar na história da nossa terra espírito-santense.
Algumas facetas do mestre, que no último sábado (13/3) antes de falecer, marcou um encontro comigo na Livraria Logos, denotam um caráter ético irrepreensível e o ideal humilde mas celebrador.
Era ele que no início da aula pedia um minuto de silêncio para homenagear um ser de relevância desaparecido. Ao notar atenção e interesse do estudante por sua abordagem, provocava o mesmo: “Acho que fulano pode explicar a vocês melhor que eu”. Esse espírito conciliador e generoso cativava a todos.
Patrocinava estudos, sugeria sempre aperfeiçoamentos, se emocionando ao ver publicações de algum ex-aluno. De riquíssima vivência, como amizades ilustres, permitia-se contar casos pitorescos, dando sabor aos fatos.
Desprendido, pronto a ajudar o próximo, sei que doou seu valioso acervo para outro professor e escritor, também nosso ex-mestre na UFES. Na verdade, gostava de dar livros àqueles que não podiam comprar ou tinham, de igual, amor e respeito aos documentos. Continuou adquirindo muitos volumes, possuindo outra biblioteca apreciável.
Mostrei-lhe, no último diálogo, minha nova obra “Sete Máscaras”, contendo uma dedicatória em sua homenagem. Ele emocionou-se e agradeceu. Infelizmente, assim como os livros comprados naquele ocasião, não pode ler o volume, pois agendamos junto aos Professores Lea Brígida R. de Alvarenga Rosa e Luís Guilherme Santos Neves o lançamento posterior no IHGES.
Homem de espiritualidade evoluída, como a pressentir seu destino, me falou de anjos vistos por um amigo ao meu lado, do carinho e saudade do ex-aluno e parceiro intelectual Professor Miguel Depes Tallon (visível numa charge na parede), além de folhear a aquisição de um livro sobre um evangelho apócrifo descoberto no Egito.
Tributei a Renato Pacheco na sexta feira (19/3), para meus alunos, sua importância para o Espírito Santo. Agora suas cinzas irão repousar entre o Convento Franciscano de Nossa Senhora da Penha (onde fui batizado) e a baía de Vitória.
Partiu prematuramente. A existência fecunda, porém breve, prendeu-se a um prazer louvável: criar-ensinar-amar o próximo, como ensinou o Cristo e os cristãos.


Eloi Angelos Ghio Historiador, Psicanalista e Escritor